A vaidade apodrece nossa alma. Essa deve ser uma afirmação tida por extremista numa época como a nossa em que tudo é vaidade e não se vê mal nenhum nisso, tão inofensivo sentimento. Lembro sempre daquele filme maravilhoso do Advogado do Diabo em que o personagem interpretado por Al Pacino vira pela primeira vez para o telespectador e diz “Vanity: definitely my favorite sin!” – “Vaidade, ddefinitivamente meu pecado favorito!”.
Tudo é vaidade
No livro do Eclesiastes encontramos “Vaidade das vaidades: tudo é vaidade!”. Lembro que uma vez uma amiga minha refletiu que essa passagem estava certa. Na ocasião não entendi, não sei se hoje penso o mesmo que ela, mas tudo é vaidade mesmo. Quando alguém consegue ser um bom profissional ao invés de ter um sadio orgulho, usa da sua vaidade por sentir que faz algo que merece o elogio dos homens do século. Uma mulher ao ser elogiada por sua aparência não consegue agir com a maturidade de compreender que essa aparência não é nem de perto o que se deveria admirar mais em si, pois ela vai passar com a velhice. Mas numa época em que vivemos na redes sociais um exibicionismo coletivo da nossa imagem e das nossas ações, quem fica imune da vaidade?
Quem não é vaidoso?
A medida que a vaidade invade nossa vida ela apodrece nosso coração. Não acredita? Porque uma pessoa se corrompe? Existem vários motivos, como o ter, o ser e o prazer. Mas principalmente o “ser” é que tem a ligação com a vaidade. A medida em que o respeito humano, ou seja, nossa necessidade de ser aquilo que esperam de nós, cresce e é preciso moldar nossas ações para se conformar com as vontades do século. O que outros estão fazendo? Porque fazer diferente e se indispor? No mundo em que vivemos é assim, se você dança conforme a música você será deixado em paz, mas experimente fazer o contrário para ver o que acontece.
Assassinato de reputações
Já viu quando um artista ou alguém famoso fala algo que está fora do que a opinião pública ou a grande mídia fala? O que acontece com essa pessoa? Pode ser que nós, povão, concordemos com o que ela diz, mas se a mídia não gostou ela será difamada. Pois sua opinião não está de acordo com establishment.
Vaidade é sedutora e “necessária”
Então a vaidade é sedutora, mas mais do que isso, ela vai se tornando lei. Pense nos clássicos, No Retrato de Dorian Grey a tentação dele vem da vaidade. Em Doutor Fausto a tentação também vem desse oferta de poder. Narciso morreu pela sua vaidade. A rainha má da Branca de Neve era má principalmente em função de sua vaidade. A literatura tanta nos alertar. Ontem mesmo vi o clássico “A Bela e a Fera“, de 91 da Disney. O filme inteiro é uma grande lição de vaidade x virtude. O que não quer dizer beleza x virtude, uma vez que a beleza cumpre importante papel no mundo. Mas a beleza não precisa e não deve ser vaidosa.
Humildade
Eis o verdadeiro caminho para contrapor o rastro mal que a vaidade produz na nossa alma. Lendo Filotéia de São Francisco de Salles, percebo as orientações do Santo para aproveitarmos as “abjeções” da vida. Todos os momentos menos “glamorosos” mas tão necessários que precisamos viver para mudar nossa alma. Catar arroz em baixo da mesa que nosso filho deixou cair. Ajudar uma pessoa doente. Limpar o chão, lavar uma louça, ser vista com uma roupa simples, sem maquiagem, enfim. São diversos os momentos que a vida nos proporciona com sua invariável “realidade” nada glamorosa e que podemos aproveitar para exercer nossa humildade e contrapor esse mal silencioso.