“O livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós” . Assim define Kafka sobre o papel importante dos livros. Alguns dos que li mudaram um pouco a forma como eu percebia certas coisas da vida. Isso é um dos grandes ganhos que temos ao ter acesso aos livros, podemos ter contato com alguém que viveu a muitos anos atrás ou em outra parte do mundo, em outra cultura sem sair do nosso lugar.
Aqui vai uma lista de alguns que me lembro e que efeito causaram.
Preparação para a morte – Santo Afonso Maria de Ligório
Ainda não terminei de ler e já sinto os efeitos dessa obra. Todos nós sabemos que vamos morrer, mas temos a incrível arte de ignorar essa verdade. Nesse livro somos convocados a pensar no nosso derradeiro fim na vida nesse mundo e no que há de ser a nossa próxima vida.
Trazendo algumas reflexões interessantes do livro destaco a ideia equivocada de que próximos da morte, aí sim, conseguiremos nos preparar para deixar essa vida. Insensatez nossa, pois na hora da morte poderemos estar tão doentes que nossa confusão mental pode não nos permitir tal preparação. Ou pior, nossa partida pode ser repentina e instantânea, como tantas vezes ocorre nos acidentes de transito.
Outra reflexão interessante é sobre nosso apego a esse mundo, que é só uma passagem, e nosso desapego com a eternidade.
Acho que terei de fazer uma resenha só para esse livro…
O poder do hábito – Charles Duhigg
Muitas coisas que fazemos no nosso dia, ao contrário do que pensamos, não passa por um grande raciocínio da nossa mente. Elas acontecem, como dizemos, no “modo automático”, é o que chama-se hábito. E por mais que isso pareça algo que não faz diferença, na verdade, aí pode estar a chave da mudança de muitas coisas caras para nós na vida, tais como finalmente mudar nosso hábito alimentar (hábito), nossa impulsividade em brigar com alguém da família, roer as unhas, comprar compulsivamente, etc.
O autor explica por uma série de estudos já realizados o modo como o hábito ocorre, por meio de gatilhos do nosso dia a dia e nos ajuda a pensar que estratégias podemos tomar diante dos nossos hábitos para finalmente muda-los.
Eu não tinha essa visão, hoje percebo melhor os meus gatilhos por conta disso.
A luta pessoal para resolver os problemas da vida íntima – Padre Jonas Abib
Faz anos que tive contato com esse livro. Eu era adolescente e estava passando por um momento que não chegava a ser depressão, eu acho, mas algo que passava perto. Uma ausência de sentimentos, as vezes um desespero, as vezes um desânimo, como que situações que eu estava vivendo na minha vida estivessem tirando meu animo. Hoje vejo que essas situações tinham relação com escolhas erradas que eu fiz na minha vida na época.
Deparei -me com esse livro e parecia escrito para mim. O padre Jonas não usa a expressão “depressão” em nenhum momento, eu desconfio que para não entrar na área de psiquiatria, ao invés disso opta pela palavra “desânimo”.
Dentre tantos ensinamentos do livro, para mim ficou marcada a história de Isabel, prima de Nossa Senhora na bíblia. Engraçado ele pegar o exemplo conhecido de nós para mostrar outra perspectiva, de que Isabel estava naqueles seis meses vivendo escondida e com depressão não vendo as graças que Deus fazia na vida dela. De certa forma o mesmo acontece na nossa vida, Deus sempre pronto para nos distribuir suas graças e nós incapazes de enxergar.
O amor que dá vida – Kimberly Hahn
Esse livro traz um assunto completamente estranho ao nosso mundo hoje e até mesmo aos católicos praticantes. Estar aberto à vida. Foi com essa estranheza que comecei a ler o livro e decidi ir até o final.
Kimberly fala de sua própria história e abertura à vida, ou seja, ter quantos filhos Deus quiser em seu casamento, sem uso de contraceptivos.
Dentre muitas questões descritas no livro, uma das coisas que mais me marcou foi a dessecação que Kimberly faz da engenharia social que estamos vivendo hoje e começamos a ter por normais certos pensamentos como: filhos são custo, filhos são falta de tempo, filhos são estresse e etc.
Uma das críticas mais contundentes que li no livro foi com relação à educação escolar nos EUA, mas que por aqui não toma rumos diferentes, em que os alunos aprendem a “cuidar” de filhos na escola na perspectiva única de quanto se gasta com as crianças, reduzindo a procriação humana ao mero equilíbrio financeiro, como se nada mais estivesse envolvido.
Com certeza foi uma leitura que me desconfortou muito e por isso foi tão válida.
Ensine do seu jeito – John Holt e Patrick Farenga
Eu não preciso concordar com tudo que um autor diz para achar que o livro dele tenha sido muito bom e feito diferença.
A gente vive ouvindo dos meios midiáticos e dos artistas da moda um “temos que falar sobre isso” e “isso ainda é tabu” para assuntos que eles querem nos manipular. Pois existe no nosso meio um grande TABU que são as instituições de ensino como são hoje. Isso realmente ninguém quer falar.
John Holt não fala sozinho nesse livro, mas usa como referência também Ivan Illich (mesmo nome do personagem de Leon Tolstói), que é um defensor do ensino clássico (seu livro “Sociedade sem escolas”) além de citar também muitos e muitos pais insatisfeitos com o trabalho que as escolas fazem com seus filhos.
Aqui ele traz a realidade do homeschooling e escolas alternativas para quem entende que a escola hoje tem um papel de manipular as crianças com ideologias contrárias às da família, ser muito conteudista, ser fria, não atentar as questões de bullying existente, dentre outras questões.
Sagrada Família – Entre fraldas e anjos – Alexandre e Viviane Varela
Realmente, não só estabelecendo vínculo da sagrada família com a nossa própria, mas revelando um novo olhar em cima dos eventos já conhecidos sobre a família de Jesus e dando alguns dados de grandes teólogos o livro me trouxe um novo olhar sobre esses acontecimentos.
Inclusive, algo que sou muito grata, ele elucida que certos eventos na vida de Jesus e Nossa Senhora não foram simbólicos, mas de fato aconteceram, ao contrário de certas interpretações que vem sendo feitas do evangelho recentemente.
Conto de Natal – Charles Dickens
Eu achei realmente impressionante como uma história já tão conhecida, interpretada no cinema, contada através de desenhos e etc pôde realmente ser tão tocante e inovadora na minha vida. Aconteceu justamente na minha história de Natal do ano passado:
Era dezembro e minha família toda estava com covid. Eu e o meu esposo também. Como eu amo ler resolvi pegar um livro que fosse fácil, já que meu estado de saúde não permitia leituras aprofundadas. Encontrei esse bem barato em formato ebook.
Eu já vinha preocupada como seria o Natal, meus pais doentes em outra cidade, meu filho acabaria tendo um Natal não muito legal. E essa preocupação de Natal sem graça sempre foi importante para meu esposo. Ele achava, com razão, que a festa tinha que ser bem celebrada, memorável.
Ao ler esse livro, percebi como a morte chega na nossa porta rápido e uma das mais importantes formas de fazer diferença na vida é nesses momentos únicos com a família, e contemplando a família de Nazaré.
Decidi com isso que me reuniria com minha família doente custasse o que custasse. Levamos presentes, touca de Papai Noel, comida e passamos o dia inteiro cozinhando e até peru teve, que eu nunca tinha comido. Foi muito legal.
Tudo isso por causa de um livro.
A mentira do glúten – e outros mitos sobre o que você come – Alan Levinovitz
Confesso que só li metade do livro. Já explico por quê. No entanto, o que li foi muito bom. Em tempos em que desinformações nutricionais rolam em revistas, artigos online e mesmo na boca de profissionais da saúde como nutricionistas, médicos e demais profissionais, esse livro vem lavar a alma de qualquer pessoa minimamente preocupada com o que a ciência de fato diz sobre a alimentação.
Alan é um pesquisador de lendas religiosas. Por isso você deve estranhar o que esse cara está fazendo pesquisando alimentação. Bem, como o título do livro sugere, existem mitos alimentares hoje tão difundidos que a linguagem “alimento bom”, “alimento mal” e outros termos comumente utilizados pela moral e ética religiosa como “bem” e “mal” chamaram atenção do pesquisador como termos muito mal empregados para dizer que a ciência de verdade rotula os alimentos dessa forma.
Muitos mitos são derrubados com clareza nesse livro, dando alguns spoilers: quem não pode comer glúten é quem tem doença celíaca. Ponto. Açúcar não é tóxico nem vicia. O sal não é necessariamente causador de hipertensão. Enfim, afirmações essas que se tornam polêmicas quando o contrário é dito corriqueiramente nos dias de hoje. Um livro muito esclarecedor e digo isso enquanto nutricionista.
Porque não li todo o livro? Bem, se na primeira metade do livro o autor se esmera para retirar o medo em relação à comida de nossos corações, na segunda parte ele faz real terrorismo apontando o plástico como grande vilão para a saúde humana, de certa forma criando novo histerismo em relação à saúde. Mas enfim…
Bem, contei aqui 8 livros que mudaram minha perspectiva. Agora, por favor, por favor, me diga, quais são os livros que mudaram o seu jeito de ver as coisas!