Criança dormir com os pais costuma ser aquele assunto polêmico na roda de casais. Alguns, poucos, se opõem, a maioria aprova e diz que o filho não consegue deixar de dormir com eles ou ainda, que os pequenos exigem a presença da mãe até altas horas para enfim pegar no sono. Penso que tem algo errado aí. Os pais parecem estar aguardando o momento em que o comportamento esperado surja nos filhos. Tenho uma notícia: não vai rolar.
O comportamento esperado não surge
Alguns amigos desabafam que aguardam o momento em que os filhos não queiram mais dormir com os pais na cama de casal. Ou pior, os pais anseiam pelo dia em que voltem a dormir com suas esposas porque os filhos tomam seu lugar na cama. As mães aguardam o dia em que seus pequenos tenham um sono melhor para poder dormirem num horário descente, tendo em vista que no outro dia é necessário acordar cedo para todas as tarefas e trabalhos a serem resolvidos.
Mas a pergunta é: isso vai acontecer? Ouso dizer que não.
Dormir com os pais
Já vi crianças de 9 anos ou mais, idade em que começam a entrar na pré-adolescência que vivem a dormir com os pais. Quer dizer, aquele hábito ficou e mudar depois de grande se torna mais difícil. Isso gera uma situação embaraçosa para o adolescente, que não teria coragem de admitir isso para seus colegas de escola e para o casal, gera inúmeros problemas.
Problemas na vida do casal
Vida sexual se torna impossível na medida em que as crianças dormem com os pais. E a vida íntima de um casal não é um detalhe, é importante para crescer em intimidade, além de outras coisas que não estou mencionando.
Outro problema é que o casal dorme mal ou dorme numa cama que não é apropriada, sendo até mesmo um sofá. Nossa noite de sono não pode ser negligenciada, pois aí é que repomos nossas forças para o trabalho diário e para cuidarmos de nossa saúde.
Isso também é um problema para as crianças, que crescem sem saber que existe limites de comportamento e limites físicos, como o espaço dentro de casa que é delimitado para cada membro da família.
Porque pais deixam seus filhos dormirem na cama
O primeiro motivo que me vem na mente é a facilidade. É mais fácil deixar a criança realizar seu desejo do que impor limites. Além disso tem a questão do sofrimento. Hoje a disciplina positiva tem conquistado espaço nos pais da nova geração, uma vez que a palavra “não” não pode ser usada, evitando causar desgostos e insatisfações nas crianças.
O que acontece na prática é que as crianças crescem sem limites e achando que o sofrimento deve ser evitado a todo o custo. Acreditam que os pais estão aí para satisfazer todas as suas vontades. Fica a pergunta: quando elas se tornaram adultos capazes de se sacrificar por alguém? Quando elas entenderão que seu papel no futuro é cuidar dos pais? Quando elas entenderão que a vida é cheia de sofrimentos e frustrações e é preciso lidar com isso?
Ou podemos fazer uma pergunta menos filosófica: quando as crianças vão dormir sozinhas?
Geração nutella
Essa brincadeira da geração nutella x geração raíz tem um grande fundo de verdade. Os pais não querem fazer sua tarefa de pais e dar limites para os filhos. Não querem que sofra. Mas o estrago disso é grande.
Vou contar minha história que costuma desagradar os pais mais sensíveis, mas que resolveu tudo aqui em casa e não me arrependo: quando meu filho tinha um ano, por aí, ele estava muito muito cansado de sono e não queria descer do meu colo. Toda vez que eu tentava deixá-lo na cama ele chorava copiosamente. Cada dia essa história ia até mais tarde.
Certa noite já era quase 1h da madrugada e meu filho estava nessa. Eu estava exausta. Tomei uma decisão. Coloquei ele no berço e disse boa noite. Fechei a porta do quarto dele. Ele ficou chorando por 40 minutos. Terrível, mas depois dormiu a noite toda e nós dois acordamos bem. Na noite seguinte repeti. Ele chorou por 10 minutos. Na terceira noite ele chorou por 7 minutos. Na quarta noite não ouve mais choro.
Firmeza é diferente de agressividade
Algumas mães se chocam com isso e dizem não ter coragem. Mas a coragem é necessária para dar limites na criança e ver um pouco de sofrimento nela por passar por contrariedades. Isso não é agredi-la, mas educá-la. Educar é um processo que as vezes exige mais rigidez. Não queremos adultos moles de espírito, que diante de qualquer contrariedade se põe a chorar e reclamar nas redes sociais.
Precisamos de pessoas que saibam limites e em situações mais difíceis que essa saibam se colocar a disposição dos outros, saibam que o amor exige sacrifícios e abnegação.
Termino com a frase do filósofo:
“Eduque as crianças e não será necessário castigar aos homens.” Pitágoras